segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Caminhada reúne familiares de vítimas da boate Kiss em Santa Maria

Caminhada é realizada em Santa Maria antesde missa na basílica (Foto: Luiza Carneiro/G1)
Redação

Familiares, sobreviventes, amigos e moradores de Santa Maria se reuniram nesta segunda-feira (20) para uma caminhada em homenagem às vítimas da tragédia na boate Kiss, que completa um ano no dia 27 de janeiro. A concentração começou pouco antes das 8h em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima. A peregrinação seguiu até a Basílica Nossa Senhora Medianeira, onde uma missa foi realizada.

Emocionados, Ildo Toniolo, que perdeu a filha Leandra na tragédia, e a filha caçula Gabrieli acompanharam a caminhada. 

- Temos de viver tudo de novo. A gente se sentia melhor quando os quatro estavam presos naqueles primeiros meses. Tínhamos um sentimento de justiça. Agora não temos nenhuma justificativa. Dá uma sensação de muita dor. Isso faz com que a gente se sinta pior. A gente não consegue superar - lamenta Ildo.
- A gente era bem juntas, dividíamos o mesmo quarto. O sentimento é o mesmo, parece que era ontem que eu vi ela saindo pela porta. Era meu exemplo - recorda Gabrieli.


O presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira, esteve fazendo o controle do trânsito. A caminhada foi realizada em silêncio e todos os participantes estavam muito emocionados. A missa foi celebrada pelo arcebispo Dom Hélio Adelar Rubert. Além dele, padres concelebrantes foram convidados para participar do ato. O coral da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também esteve presente.

Entenda

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 pessoas feridas. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é de que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material usado para isolamento acústico (espuma irregular), a utilização do sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor, e exaustão de ar inadequada.
Estão em andamento os dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso e tentativas de homicídio e outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era de oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de de comandante do 4º CRB de Santa Maria.
Atualmente, a Justiça está na fase de depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir as testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, o juiz deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo. Se o magistrado pronunciar o réu, vai a júri. Senão, é absolvido. Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Neste caso, ela vai julgar a causa de forma individual. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses cabe recurso.
No âmbito das investigações, três estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix e outro uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.




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